Figuras de linguagem
I - Figuras de palavras
Ocorrem quando os vocábulos sofrem
um desvio em sua significação própria, passando a ter outros sentidos. Compare
o emprego de fera nestas frases:
O leão é uma fera. → Aqui fera significa “animal feroz”; está empregado no sentido próprio
(normal).
João estava uma fera. → Aqui fera quer dizer “muito bravo”; está empregado no sentido figurado
(ocasional).
As mais
importantes figuras de palavras são:
1. Metáfora – é o
emprego de uma palavra ou expressão fora de seu sentido normal, por haver
semelhança real ou imaginária entre os seres que ele designa. A palavra fera
foi usada em sentido metafórico na frase “João estava uma fera”. Outros
exemplos:
a. Toda profissão tem seus espinhos. (momentos difíceis)
b. O jardimvestiu-se de flores. (ficou repleto)
.Atenção! Não confundam metáfora com comparação. Nesta há a presença dos
conectivos (como, tal qual, tal como, etc.).
Observe:
Seus olhos cintilavam como
esmeraldas em sua face. (comparação)
Duas esmeraldas cintilavam em sua face. (metáfora)
2.Metonímia –
ocorre quando empregamos uma palavra em lugar de outra, coma qual se acha
relacionada. Exemplos
Empregou-se...
Costumo ler Jorge Amado. ...o autor pela obra. (O que realmente leio é a
obra do autor.)
Sócrates tomou a morte. ...a causa pelo efeito. (causa: veneno/efeito:
morte)
Alexandre é um bomgarfo. ...o instrumento pela pessoa que o utiliza. (garfo: comilão)
Comprei um belo panamá. ...o
lugar pelo produto. (panamá:chapéu
originário do Panamá)
Não tinha teto para morar. ...a parte pelo todo. (teto: moradia.)
Ele é o herdeiro do trono. ...o
símbolo pela coisa simbolizada. (trono:
reino, império)
Tomou uma taça de champanhe. ...o continente (que contém) pelo
conteúdo). (Ele não bebeu a taça,
mas sim o conteúdo dela.)
3. Perífrase ou antonomásia – é uma expressão que passa a designar os seres através de
algum de seus atributos. Exemplos:
O rei dasselvas habita a África. (o leão)
O poeta dos escravos nasceu na Bahia. (Castro Alves)
A cidade Luz é muito visitada por turistas. (Paris)
4. Sinestesia
(uma variante de metáfora) – consiste em atribuir a um ser sensações que não
lhe são próprias. Exemplos:
O sol caía com uma luz pálida e macia. (pálida
relaciona-se à visão/ macia
relaciona-se ao tato)
No quarto havia um cheiro de sono. (cheiro relaciona-se ao olfato)
5. Catacrese – é
o emprego de um termo figurado por falta de palavra mais apropriada. Exemplo:
Ninguém coça as costas da cadeira.
Os braços da poltrona precisam ser reformados.
Figuras de som
1. Aliteração – é a repetição constante de fonemas
consonantais (consoantes) idênticos. Veja:
“Rara, rubra, risonha, régia rosa.” (Félix
Pacheco)
“A fria, fluente, frouxa claridade flutua.” (Cruz e Sousa)
2.Assonância – é a repetição constante de fonemas
vocálicos (vogais) iguais ou semelhantes. Veja:
Ama a bola, que o ama, de mordente amor.
3.Paranomásia – consiste na aproximação de palavras
de sons parecidos, mas de significados distintos. Exemplo: “Eu que passo, penso e peço.”
II – Figuras de
construção
Figuras de construção ou de sintaxe são as que se afastam das
estruturas regulares ou comuns, visando transmitir maior expressividade à
frase. As mais importantes são:
1. Pleonasmo – é a repetição de um termo já
expresso ou de uma ideia já sugerida. Observe:
Vi com os meus próprios olhos.
“A
mim resta-me a independência
para chorar.” (Camilo Castelo Branco)
Ele sempre viveu uma vida folgada.
“Toda gasolina consumida no passado era consumível.”
(Jô Soares)
.Atenção:
evite os pleonasmos viciosos, como “subir
para cima”, “entrar para dentro”,
“ilha fluvial do rio Amazonas” ... Ao invés de imprimir
maior expressividade ao texto, eles apenas o empobrecem.
2. Polissíndeto – é a repetição da conjunção
coordenativa. Veja os exemplos:
“Suspira, e chora, e geme, e sofre, e
sua...” (Olavo Bilac)
“Mão gentil, mas cruel, mas
traiçoeira.” (Alberto de Oliveira)
3. Silepse – ocorre quando efetuamos a
concordância não com os termos expressos, mas com a ideia a eles relacionada em
nossa mente. Divide-se em:
a) Silepse de gênero
Vossa Senhoria pode ficar descansado: telefonarei quando chegar lá.
A criança nasceu. Era magnífico.
“Quando
a gente é novo, gosta de fazer bonito.” (Guimarães Rosa)
b) Silepse de pessoa
“Os amigos nos revezávamos à sua
cabeceira.” (Amadeu de Queiroz)
“Aliás,
todos os sertanejos somos assim.”
(Raquel de Queiroz)
c) Silepse de número
O pelotão chegou à praça e estavam cansados.
“Coisa
curiosa é gente velha. Como comem!” (Aníbal M. Machado)
4. Onomatopeia – consiste no uso de palavras cuja
pronúncia imita o som ou a voz natural dos seres. Exemplos:
“Zunem as cigarras, zino, zino, zino...
Como se fossem as mesmas
Que eu ouvi menino.” (Manuel
Bandeira)
“O galo aluado/ Subiu no telhado
E saudou a lua,/Cocoriluja, cocorilua.” (Sérgio Caparelli)
5. Anáfora – é a repetição de uma palavra em
intervalos regulares, no início de versos ou frases.
Não troque de cara, troque
de ótica, troque seus óculos na
Fotóptica. (W/Brasil)
Possui um grande poder expressivo e persuasivo,
permitindo a expressão de sentimentos fortes (amor, desespero, cólera).
Além de produzir um efeito de
simetria rítmica, a anáfora serve também para enfatizar ideias, chamando a
atenção para o que foi repetido.
6. Elipse – é a omissão de uma ou mais
palavras que normalmente deveriam constar na frase, mas que podem ser
subentendidas.
O time deles todo no campo da gente.
(O time deles todo estava no campo
da gente- houve a elipse do verbo estar.)
Um caso específico de elipse é o zeugma. Nessa figura, omite-se uma palavra já expressa
anteriormente. Exemplos: “Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor
ruim.” (Clarice Lispéctor) (... a piedade era tão crua como o amor era ruim – houve a omissão do verbo ser, que consta da primeira oração.)
A elipse e o zeugma são
figuras de construção sem grandes efeitos estilísticos. Muitas vezes são
utilizados para acelerar a leitura e, nos poemas, para manter o ritmo ou a
contagem pretendida de sílabas métricas.
7. Inversão – consiste na mudança da ordem
natural dos termos na frase. Exemplo:
“De
tudo ficou um pouco./ Do meu medo./ Do teu asco.”
8. Anacoluto – consiste em deixar um termo solto
na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção
sintática e depois se opta por outra. Exemplo:
A vida, não
sei realmente se ela vale alguma coisa.
Figuras de pensamento
São as figura que envolvem
principalmente emoções.
1. Antítese – é a figura que salienta o
confronto de ideias opostas entre si. Veja:
“Quando os tiranos caem, os povos se levantam” (Marquês de Maricá)
“Tristeza
não tem fim/Felicidade sim.”
(Vinícius de Morais)
2. Eufemismo – é a figura que suaviza a expressão
de uma ideia desagradável, por meio da substituição do termo exato por outro
menos inconveniente, menos ofensivo. Exemplo:
“Roga a Deus, que teus anos encurtou ← O autor usou esta construção para
Que tão cedo de cá me leve a ver-te, atenuar a ideia de morte.
Quão cedo de meus olhos te levou.”
(Camões)
3. Hipérbole – é uma afirmação exagerada ou uma
deformação da verdade, visando a um efeito expressivo. Exemplos:
Este mundo é um vale de lágrimas.
“Rios
te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac)
4. Ironia – é a figura pela qual dizemos o
contrário do que pensamos, quase sempre com intenção sarcástica. Observe:
João, você é realmente um santinho! (Na verdade, João é
endiabrado...)
Minimópolis pode orgulhar-se: é a cidade mais esquecida do planeta...
5. Prosopopeia ou personificação – é a figura que consiste em atribuir sentimentos ou
qualidades humanas a seres inanimados ou abstratos:
“Um riozinho vai para a escola estudando geografia.” (Raul Bopp)
As arvorezinhas bocejavam sonolentas.
6. Apóstrofe – consiste na interpelação enfática
a alguém (ou alguma coisa personificada) Exemplo:
“Senhor Deus dos desgraçados!/ Dizei-me, Senhor
Deus!” (Castro Alves)
7. Gradação – é a apresentação de ideias em
andamento crescente ou decrescente, por meio de palavras diferentes. Visa a
traduzir sentimentos fortes, exprimindo entusiasmo, desespero, tédio, cansaço,
derrota. Exemplo:
Ele estava satisfeito, feliz, exultante.
A tarde cai nostálgica, triste, deprimente.
Bibliografia:
LUFT & Maria Helena. A palavra é sua, Língua Portuguesa, 8ª
série. Ed. Ver. E ampliada – São
Paulo: Scipione, 1996.
MAIA. Português, Novo ensino médio, 11ª edição – São Paulo: Ática, 2005.