segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Impropriedade na escolha do vocabulário

Impropriedade na escolha do vocabulário

A-   Expressões semelhantes apenas na forma

Há pouco/ a pouco
Observe: Paulo saiu há pouco. (ação passada = faz pouco tempo)
                Paulo virá daqui a pouco. (ação futura)
                Há pouco arroz na geladeira. (= existe)


Ao encontro de/ de encontro a
Observe: Os governantes deveriam ir ao encontro das necessidades do povo. (indica conformidade, acordo)
                Os aumentos inflacionários vêm de encontro a nossas expectativas. (indica oposição, conflito)

Senão/ se não

Observe:
Se não chover, irei à praia. (=Caso não chova...)
Se: conjunção, não: advérbio de negação
Nos demais casos, use senão:
Apressem-se, senão perderemos a festa. (= caso contrário)
Não fazia nada, senão chorar. (= exceto, a não ser)
Não estou aqui senão para ajudá-lo. (= a não ser)
Havia apenas um senão no texto. (falha, defeito)

Nenhum/nem um

Quando falamos, essas duas expressões soam praticamente da mesma forma. Ao escrevê-las, porém, devemos observar certas distinções:

Entrou na casa sem que nenhum morador o notasse. (antônimo de algum)
Nem um morador do prédio o cumprimenta. (+ nem um sequer, nem um único; opõe-se a muitos.)


B-    Palavras e expressões usadas inadequadamente

Como, por exemplo

Não há necessidade de usarmos juntas as duas expressões, pois como já implica a idéia de que se vai apresentar um exemplo. Portanto, já que elas são equivalentes, não convém que andem juntas.
                Veja:

A turma era composta de alunos brilhantes, como o Mário, o Ivan e o Júlio.
                Poderíamos substituir o como por dois-pontos ou por exemplo.

Que nem

                Essa é uma expressão própria da oralidade. Na linguagem escrita, nas orações comparativas, substitua-a por como ou igual a:
Você é igual a mim. (E não “é que nem eu”)
Ele é forte como eu. (E não “forte que nem eu”)
É inteligente como o pai. (E não “que nem o pai”)

Por causa que

Nunca use por causa que. Use porque, antecedendo orações, ou por causa de, antecedendo termos da oração.
Veja:
Não saí por causa da chuva.
Não saí porque choveu.
Chorou por causa do resultado da prova.
Chorou porque foi mal na prova.

Afim/ a fim de

A expressão a fim de, significando desejar, estar com vontade de, só deve figurar em textos que usam linguagem coloquial ou linguagem falada.
                Estou a fim de sair.
Na linguagem formal usa-se afim (=semelhante) ou a fim de (=para):
Temos gostos afins.
Procurei-o a fim de conseguir um emprego.

C-    Modernos curingas da linguagem

Devemos usar adequadamente cada elemento destinado a estabelecer relação entre os termos de uma oração ou entre as orações de um período, para exprimir exatamente o tipo de relação que pretendemos.
        Vejamos alguns casos em que se usam inadequadamente certas palavras, carregando-as de significados que não possuem:

Através de

Essa locução tem o significado de por dentro de, de um lado para outro de, ao longo de, por entre:
Olhava através das grades da janela.
Viajou através do país.
Cavalgava através dos pastos e florestas.
Foi companheiro através de anos e anos.

                Portanto, evite usá-la quando corresponder a: por meio de, por intermédio de, ou simplesmente por (pelo, pela).
                A campanha seria feita por meio de cartazes.
Mandei as cartas pelo correio.
Soube do ocorrido por intermédio de uma vizinha / ou por uma vizinha.


                Junto a

Essa locução expressa uma posição e significa ao lado, próximo, perto:

        Construiu uma casa junto ao lago.
        Comprou um apartamento junto ao do pai.
       
        Essa locução não deve ser usada como um curinga para substituir diferentes preposições:
        “O prestígio do jornal entre os (e não junto aos) entrevistados era muito grande.” / ”A advogada entrou com um recurso no (e não junto ao) tribunal.” / “O empresário não conseguiu rolar sua dívida com o (e não junto ao) Banco do Brasil.”

        Onde e aonde

        Onde equivale a em que, referindo-se a lugar físico (= no lugar em que):
        A casa onde cresci.
        O navio onde viaja.
        A empresa onde trabalho.

        Afirmações desse tipo devem ser evitadas:
        Ele me convidou para sair, foi onde eu disse que não queria nada com ele. (=quando)
        Essas coisas nos prejudicam, onde a gente não pode nem reagir. (=de tal forma que)


        Aonde deve ser usado com verbos que exprimem movimento:
       
        Aonde você vai, João?
        Aonde você quer chegar?
        Aonde você vai levar essa cadeira, Pedro?


 Bibliografia:
DELMANTO, Dileta. Escrevendo melhor. 3ª edição. São Paulo: Editora Ática S.A., 1996.
               






domingo, 7 de abril de 2013

Verbos primitivos e derivados

VERBOS - FORMAS PRIMITIVAS:       - Presente do indicativo.
                                                            - Infinitivo impessoal.
                                                           - pretérito perfeito do indicativo.

Modo indicativo

 Pretérito imperfeito do indicativo (deriva do infinitivo impessoal).
Verbos da primeira conjugação: trocar o r final do infinito impessoal por va e acrescentar: -, s, -, mos, is (trocar o a por e), m (desinências pessoais).
Verbos da segunda e da terceira conjugações: trocar o er ou o ir do infinitivo impessoal por ia e acrescentar: -, s, -, mos, is (trocar o a por e), m (desin. Pessoais).


 Pretérito mais-que-perfeito do indicativo (deriva do pretérito perfeito do indicativo).
 Eliminar o m final da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo e acrescentar:-,s,-, mos,is (trocar o a pore), m (desinências pessoais).


 Futuro do presente do indicativo (deriva do infinitivo impessoal).
Trocar o r final por: rei, rás, rá, remos, reis, rão.


 Futuro do pretérito do indicativo (deriva do infinito impessoal).
Trocar o r final do infinitivo impessoal por: ria, rias, ria, ríamos, ríeis, riam.

Formas nominais

Gerúndio(deriva do infinitivo impessoal). Trocar o r final do infinitivo impessoal por ndo.

 Particípio (deriva do infinitivo impessoal). Trocar o r final do infinitivo impessoal por do/da. Nos verbos de segunda conjugação, trocar o último e por i.

 Infinitivopessoal (deriva do infinitivo impessoal). Acrescentar ao infinitivo impessoal: -, es, -, mos, des, em (desinências pessoais).

 Modo subjuntivo

 Presente (deriva do presente do indicativo)
Verbos da primeira conjugação: trocar o o da primeira pessoa do singular do presente do indicativo por eeacrescentar:-, s, -, mos, is, m(desinências pessoais).
Verbos da segunda e da terceira conjugação: trocar o final da 1ª pessoa do singular do presente do indicativo por a e acrescentar: -, s, -, mos, is, m (desinências pessoais).

 Pretérito imperfeito do subjuntivo (deriva do pretérito perfeito do indicativo).
Trocar o ram da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo por sse e acrescentar:
-, s, -, mos, is, m (desinências pessoais).
      3.   Futuro do subjuntivo (deriva do pretérito perfeito do indicativo).
            Eliminar o am da terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo e acrescentar: -, es, -,   mos, des, em (desinências pessoais).


 Modo imperativo (dar ordens ou fazer pedidos).

 Imperativoafirmativo: copiar a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda do plural (vós) do presente do indicativo sem o s final; copiar as outras pessoas (menos a 1ª do singular) do presente do subjuntivo.


Imperativo negativo: escrever cinco vezes a palavra não e copiar o presente do subjuntivo (sem a primeira pessoa do singular).

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Figuras de linguagem


Figuras de linguagem
I - Figuras de palavras
            Ocorrem quando os vocábulos sofrem um desvio em sua significação própria, passando a ter outros sentidos. Compare o emprego de fera nestas frases:
            O leão é uma fera. Aqui fera significa “animal feroz”; está empregado no sentido próprio (normal).
            João estava uma fera. Aqui fera quer dizer “muito bravo”; está empregado no sentido figurado (ocasional).
As mais importantes figuras de palavras são:
1.      Metáfora – é o emprego de uma palavra ou expressão fora de seu sentido normal, por haver semelhança real ou imaginária entre os seres que ele designa. A palavra fera foi usada em sentido metafórico na frase “João estava uma fera”. Outros exemplos:
a.      Toda profissão tem seus espinhos. (momentos difíceis)
b.      O jardimvestiu-se de flores. (ficou repleto)
.Atenção! Não confundam metáfora com comparação. Nesta há a presença dos conectivos (como, tal qual, tal como, etc.). Observe:
Seus olhos cintilavam como esmeraldas em sua face. (comparação)
Duas esmeraldas cintilavam em sua face. (metáfora)
2.Metonímia – ocorre quando empregamos uma palavra em lugar de outra, coma qual se acha relacionada. Exemplos
Empregou-se...
Costumo ler Jorge Amado.                    ...o autor pela obra. (O que realmente leio é a obra do autor.)
Sócrates tomou a morte.                       ...a causa pelo efeito. (causa: veneno/efeito: morte)
Alexandre é um bomgarfo.                   ...o instrumento pela pessoa que o utiliza. (garfo: comilão)
Comprei um belo panamá.                    ...o lugar pelo produto. (panamá:chapéu originário do Panamá)
Não tinha teto para morar.                   ...a parte pelo todo. (teto: moradia.)
Ele é o herdeiro do trono.                     ...o símbolo pela coisa simbolizada. (trono: reino, império)
Tomou uma taça de champanhe.          ...o continente (que contém) pelo conteúdo). (Ele não bebeu a taça, mas sim o conteúdo dela.)
3. Perífrase ou antonomásia – é uma expressão que passa a designar os seres através de algum de seus atributos. Exemplos:
O rei dasselvas habita a África. (o leão)
O poeta dos escravos nasceu na Bahia. (Castro Alves)
A cidade Luz é muito visitada por turistas. (Paris)
4. Sinestesia (uma variante de metáfora) – consiste em atribuir a um ser sensações que não lhe são próprias. Exemplos:
O sol caía com uma luz pálida e macia. (pálida relaciona-se à visão/ macia relaciona-se ao tato)
No quarto havia um cheiro de sono. (cheiro relaciona-se ao olfato)
5. Catacrese – é o emprego de um termo figurado por falta de palavra mais apropriada. Exemplo:
Ninguém coça as costas da cadeira.
Os braços da poltrona precisam ser reformados.

Figuras de som
1. Aliteração – é a repetição constante de fonemas consonantais (consoantes) idênticos. Veja:
Rara, rubra, risonha, régia rosa.” (Félix Pacheco)
“A fria, fluente, frouxa claridade flutua.” (Cruz e Sousa)
2.Assonância – é a repetição constante de fonemas vocálicos (vogais) iguais ou semelhantes. Veja:
Ama a bola, que o ama, de mordente amor.
3.Paranomásia – consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos. Exemplo: “Eu que passo, penso e peço.

II – Figuras de construção
            Figuras de construção ou de sintaxe são as que se afastam das estruturas regulares ou comuns, visando transmitir maior expressividade à frase. As mais importantes são:
1. Pleonasmo – é a repetição de um termo já expresso ou de uma ideia já sugerida. Observe:
Vi com os meus próprios olhos.
A mim resta-me a independência para chorar.” (Camilo Castelo Branco)
Ele sempre viveu uma vida folgada.
“Toda gasolina consumida no passado era consumível.” (Jô Soares)
.Atenção: evite os pleonasmos viciosos, como “subir para cima”, “entrar para dentro”, “ilha fluvial do rio Amazonas” ... Ao invés de imprimir maior expressividade ao texto, eles apenas o empobrecem.
2. Polissíndeto – é a repetição da conjunção coordenativa. Veja os exemplos:
“Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua...” (Olavo Bilac)
“Mão gentil, mas cruel, mas traiçoeira.” (Alberto de Oliveira)
3. Silepse – ocorre quando efetuamos a concordância não com os termos expressos, mas com a ideia a eles relacionada em nossa mente. Divide-se em:
a) Silepse de gênero
Vossa Senhoria pode ficar descansado: telefonarei quando chegar lá.
A criança nasceu. Era magnífico.
“Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” (Guimarães Rosa)
b) Silepse de pessoa
Os amigos nos revezávamos à sua cabeceira.” (Amadeu de Queiroz)
“Aliás, todos os sertanejos somos assim.” (Raquel de Queiroz)
c) Silepse de número
O pelotão chegou à praça e estavam cansados.
“Coisa curiosa é gente velha. Como comem!” (Aníbal M. Machado)
4. Onomatopeia – consiste no uso de palavras cuja pronúncia imita o som ou a voz natural dos seres. Exemplos:
“Zunem as cigarras, zino, zino, zino...
Como se fossem as mesmas
Que eu ouvi menino.” (Manuel Bandeira)

“O galo aluado/ Subiu no telhado
E saudou a lua,/Cocoriluja, cocorilua.” (Sérgio Caparelli)
5. Anáfora – é a repetição de uma palavra em intervalos regulares, no início de versos ou frases.
Não troque de cara, troque de ótica, troque seus óculos na Fotóptica. (W/Brasil)
Possui um grande poder expressivo e persuasivo, permitindo a expressão de sentimentos fortes (amor, desespero, cólera).
Além de produzir um efeito de simetria rítmica, a anáfora serve também para enfatizar ideias, chamando a atenção para o que foi repetido.
6. Elipse – é a omissão de uma ou mais palavras que normalmente deveriam constar na frase, mas que podem ser subentendidas.
O time deles todo no campo da gente. (O time deles todo estava no campo da gente- houve a elipse do verbo estar.)
Um caso específico de elipse é o zeugma. Nessa figura, omite-se uma palavra já expressa anteriormente. Exemplos: “Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim.” (Clarice Lispéctor) (... a piedade era tão crua como o amor era ruim – houve a omissão do verbo ser, que consta da primeira oração.)
A elipse e o zeugma são figuras de construção sem grandes efeitos estilísticos. Muitas vezes são utilizados para acelerar a leitura e, nos poemas, para manter o ritmo ou a contagem pretendida de sílabas métricas.
7. Inversão – consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase. Exemplo:
De tudo ficou um pouco./ Do meu medo./ Do teu asco.”
8. Anacoluto – consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra. Exemplo:
A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.

Figuras de pensamento
São as figura que envolvem principalmente emoções.
1. Antítese – é a figura que salienta o confronto de ideias opostas entre si. Veja:
“Quando os tiranos caem, os povos se levantam” (Marquês de Maricá)
Tristeza não tem fim/Felicidade sim.” (Vinícius de Morais)
2. Eufemismo – é a figura que suaviza a expressão de uma ideia desagradável, por meio da substituição do termo exato por outro menos inconveniente, menos ofensivo. Exemplo:
“Roga a Deus, que teus anos encurtou      ←        O autor usou esta construção para
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,                      atenuar a ideia de morte.
Quão cedo de meus olhos te levou.” (Camões)
3. Hipérbole – é uma afirmação exagerada ou uma deformação da verdade, visando a um efeito expressivo. Exemplos:
Este mundo é um vale de lágrimas.
Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac)
4. Ironia – é a figura pela qual dizemos o contrário do que pensamos, quase sempre com intenção sarcástica. Observe:
João, você é realmente um santinho! (Na verdade, João é endiabrado...)
Minimópolis pode orgulhar-se: é a cidade mais esquecida do planeta...
5. Prosopopeia ou personificação – é a figura que consiste em atribuir sentimentos ou qualidades humanas a seres inanimados ou abstratos:
“Um riozinho vai para a escola estudando geografia.” (Raul Bopp)
As arvorezinhas bocejavam sonolentas.
6. Apóstrofe – consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada) Exemplo:
“Senhor Deus dos desgraçados!/ Dizei-me, Senhor Deus!” (Castro Alves)
7. Gradação – é a apresentação de ideias em andamento crescente ou decrescente, por meio de palavras diferentes. Visa a traduzir sentimentos fortes, exprimindo entusiasmo, desespero, tédio, cansaço, derrota. Exemplo:
Ele estava satisfeito, feliz, exultante.
A tarde cai nostálgica, triste, deprimente.

Bibliografia:
LUFT & Maria Helena. A palavra é sua, Língua Portuguesa, 8ª série. Ed. Ver. E ampliada – São
Paulo: Scipione, 1996.
MAIA. Português, Novo ensino médio, 11ª edição – São Paulo: Ática, 2005.